18 dezembro, 2024

Inovações que estão transformando a indústria da soja

Conferência Internacional RTRS 2024 | Sessão 5

Com foco na colaboração e incentivos de mercado, a sessão destacou o papel das novas tecnologias para impulsionar práticas regenerativas ao longo da cadeia de suprimento da soja. Líderes da indústria compartilharam abordagens inovadoras que estão redefinindo o setor da soja, desde soluções de agricultura digital e rastreabilidade impulsionada por inteligência artificial até os mercados emergentes de soja para biocombustíveis.

O segundo dia da Conferência Internacional RTRS em Ghent apresentou uma mistura de inovação e visão de futuro. O dia explorou o poder transformador da tecnologia, estratégias focadas na sustentabilidade e colaboração. As discussões giraram em torno da exploração coletiva de um futuro sustentável para a soja e os passos necessários para transformar a ambição em ação.

A mensagem subjacente foi clara: a soja responsável não é apenas uma possibilidade, mas uma necessidade urgente.

Moderada por Yan Speranza González, diretor executivo da Fundação Moisés Bertoni, a Sessão 5 destacou inovações que estão reformulando a indústria da soja. Os painelistas incluíram Matteo Cunial, diretor de receita da xFarm Technologies; Allison Kopf, CEO da Tract; e Michelle Morton, consultora independente com experiência em biocombustíveis e mercados químicos.

Speranza González deu o tom: “Todos sabemos que a inovação é fundamental para qualquer empresa ou setor. Mas a pergunta é: que tipo de tecnologias e abordagens realmente fazem a diferença?”.

Matteo Cunial abriu a sessão relatando a jornada da xFarm Technologies de uma startup ambiciosa para se tornar um líder mundial em soluções de dados agrícolas. “Em 2018, éramos um grupo de pessoas apaixonadas tentando encontrar uma maneira fácil de digitalizar os dados agrícolas”, disse Cunial. “Hoje, ajudamos agricultores a gerenciar mais de 8 milhões de hectares em todo o mundo.”

A empresa foca em integrar ferramentas agrícolas fragmentadas em uma plataforma coesa que apoia os objetivos de sustentabilidade. 

Cunial identificou quatro passos críticos em sua abordagem:

  • Digitalização: Simplificar a coleta e gestão de dados para os agricultores.
  • Planejamento Agronômico: Utilizar dados para criar estratégias agrícolas eficazes.
  • Implementação de Sustentabilidade: Orientar os agricultores na adoção de práticas regenerativas.
  • Integração de Mercado: Permitir que os agricultores capturem valor através de dados de sustentabilidade, garantindo uma remuneração por seus esforços.

“A transformação leva tempo”, observou Cunial. “Os agricultores precisam de três a cinco anos para fazer a transição para a agricultura regenerativa. Mas com as ferramentas certas, treinamento e incentivos do mercado, é possível.”

Simplificação da rastreabilidade

Allison Kopf, da Tract, abordou as complexidades da rastreabilidade na cadeia de suprimentos e o cumprimento regulatório. Com regulamentos como o Regulamento sobre Produtos Livres de Desmatamento da UE (EUDR) entrando em vigor, a carga para as cadeias de suprimentos é significativa. “Como podemos transformar o cumprimento em uma vantagem?” perguntou Kopf. “Vamos passar de ser um custo administrativo para uma vantagem de mercado.”

A plataforma da Tract simplifica o cumprimento integrando dados internos e externos, permitindo que as empresas cumpram com os requisitos da EUDR, a Diretriz de Informação sobre Sustentabilidade Corporativa (CSRD) e a Diretriz de Diligência Devida em Sustentabilidade Corporativa (CSDDD). Kopf destacou o papel da inteligência artificial na simplificação desses processos: “A IA pode mapear as cadeias de suprimentos, validar geolocalizações e transformar dados não estruturados em informações acionáveis. Essas tecnologias são um divisor de águas.”

Seu conselho para a indústria foi pragmático: “Não compliquem excessivamente os sistemas de rastreabilidade. Construam modelos escaláveis e implementáveis em todos os níveis da cadeia de suprimentos.”

Novos mercados para a soja

Michelle Morton destacou o crescente potencial da soja em mercados emergentes como biocombustíveis para aviação e marina. Embora o biodiesel de soja enfrente desafios no transporte rodoviário de veículos leves devido a limitações nas culturas utilizadas e ao aumento de veículos elétricos, Morton observou que os setores de aviação e marina oferecem novas oportunidades. “Essas indústrias ainda não estão conectadas com RTRS, mas deveriam estar”, comentou.

Ela também destacou o papel da soja na descarbonização da indústria química. “Produtos químicos poderiam se tornar um mercado importante para a soja, especialmente à medida que as indústrias buscam reduzir suas pegadas de carbono”, acrescentou Morton, incentivando o RTRS a interagir ativamente com esses setores.

Sua mensagem foi de cautela e otimismo: “O papel da soja na descarbonização é crucial, mas precisamos navegar pelos desafios, como mudanças no uso da terra e mudanças regulatórias. Se conseguirmos, os benefícios potenciais são imensos.”

Destaque para a GIZ: Capacitando práticas sustentáveis

Entre as Sessões 5 e 6, a atenção foi voltada para a GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit GmbH), patrocinadora platina da conferência.

Christiane Holvorcem, assessora técnica sênior do projeto AgriChains Brasil, enfatizou as dimensões socioeconômicas da sustentabilidade. “Os impactos econômicos e sociais são tão cruciais quanto as considerações ambientais para impulsionar a agricultura sustentável”, afirmou.

A apresentação do projeto AgriChains Brasil da GIZ focou no papel de uma abordagem de múltiplos stakeholders na transformação sustentável da cadeia de suprimentos de soja na região de Matopiba no Brasil (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

Pedro García, coordenador de sustentabilidade na Abiove, destacou o sucesso do AgroPlus, um programa apoiado pela GIZ que oferece assistência técnica aos agricultores no Brasil. “83% das propriedades na região de Chapadinha, no estado do Maranhão, fazem parte do AgroPlus”, informou. “O programa ajuda os produtores a cumprir a legislação local e oferece as ferramentas necessárias para adotar a sustentabilidade e melhorar a gestão de suas propriedades.”

David D’Hollander, gerente sênior de projetos na Proforest, compartilhou insights do EUDR Dry Project, que explora as implicações práticas do cumprimento regulatório. “Identificamos desafios relacionados à disponibilidade e consistência dos dados, que exigem um alinhamento pré-competitivo”, disse. “Abordar esses problemas é essencial para criar soluções eficazes.”

Fechando com um chamado à ação, Benjamin Mohr, subdiretor do programa “Sustentabilidade e Valor Agregado nas Cadeias de Suprimentos Agrícolas” na GIZ, disse: “Estamos ultrapassando a capacidade de carga do nosso planeta. Depende de todos nós priorizar a sustentabilidade de longo prazo sobre os lucros de curto prazo. Um mundo melhor é possível se agirmos juntos.”

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