A União Europeia regulamenta o comércio de desmatamento: oportunidade ou ameaça para a Argentina?
Especialistas discutem as novas regulamentações europeias e como a Argentina pode se adaptar e se destacar no mercado global.
Comunicação publicada na INFOBAE, seção “Chacra y campo”: https://www.infobae.com/revista-chacra/2024/08/19/la-union-europea-regula-el-comercio-por-deforestacion-oportunidad-o-amenaza-para-argentina/
No âmbito do Congresso da Aapresid, foi realizado um painel de discussão intitulado “Regulamentações, rastreabilidade e qualificações em mercados internacionais: ameaça ou oportunidade? O tema central foi a iminente entrada em vigor, em 1º de janeiro de 2025, da regulamentação da União Europeia que proibirá a importação de matérias-primas de áreas desmatadas após 2020, afetando diretamente produtos importantes para a Argentina, como carne e soja.
O impacto das regulamentações da UE
Durante o painel, Laura Villegas, Gerente de Desenvolvimento de Mercado e Assuntos Corporativos da RTRS (Round Table on Responsible Soy), explicou que esse regulamento, conhecido como Regulamento Livre de Desmatamento da União Europeia (EUDR), faz parte do ambicioso Pacto Verde Europeu. Esse conjunto de políticas visa a combater o desmatamento, reduzir as emissões de gases de efeito estufa, proteger a biodiversidade e garantir o respeito aos direitos humanos. Villegas previu que a regulamentação poderia ser estendida no futuro a produtos como o milho e seus derivados, e destacou a importância de os produtores argentinos se adaptarem a essas novas exigências para manter sua competitividade no mercado europeu.
Além disso, Villegas enfatizou que o cenário regulatório atual representa uma tendência global que está sendo consolidada. Para enfrentá-la, ele sugeriu que a Argentina veja essas regulamentações não apenas como restrições, mas como oportunidades para diferenciar seus produtos por meio da certificação e da rastreabilidade. “É essencial se antecipar e criar produtos de valor agregado que atendam às demandas do mercado”, disse ele.
Críticas e desafios da implementação
Andrés Costamagna, representante da Sociedade Rural Argentina, foi mais crítico em sua intervenção. Ele acusou a UE de usar a mudança climática como uma estratégia geopolítica para controlar o comércio internacional. Ele disse: “Não se pode pensar em um mundo pacífico se houver fome”, enfatizando que decisões erradas por parte dos Estados poderiam aumentar a pobreza.
Costamagna também destacou a resiliência dos produtores argentinos, que, em sua opinião, estão dispostos a enfrentar esses desafios de forma proativa. “Vamos reduzir o balanço de carbono e não apenas medir as pegadas ambientais. Queremos ter um impacto triplo: econômico, social e ambiental”, disse ele. Ele também pediu que a Argentina se preparasse para se adaptar a essas regulamentações, vendo-as como ferramentas de gerenciamento que poderiam melhorar a competitividade do país no mercado global.
A resposta da Argentina: tecnologia e colaboração
O painel também discutiu as medidas que a Argentina já está implementando para cumprir as novas regulamentações. Uma das iniciativas mais notáveis é a plataforma Visec (Visión Sectorial del Gran Chaco Argentino), uma ferramenta georreferenciada que permite a rastreabilidade completa dos produtos do complexo de soja e carne, desde o campo de origem até o porto de embarque. Gustavo Idígoras, presidente da Ciara-CEC, explicou que essa plataforma é voluntária e gratuita, e já treinou mais de 5.000 produtores no país. “É fundamental manter a Renspa atualizada para garantir a rastreabilidade do produto”, recomendou.
Alejandro O’Donnell, da Aapresid, lamentou que o sistema de produção argentino, que utiliza principalmente o plantio direto – uma prática que contribui significativamente para o sequestro de carbono – seja tão pouco conhecido no mundo. O’Donnell enfatizou que a Argentina não é parte do problema, mas parte da solução, mas que é necessário demonstrar isso no cenário internacional.
Oportunidades em meio a desafios
O debate no Congresso da Aapresid deixou claro que as regulamentações europeias representam desafios significativos para a Argentina, mas também abrem as portas para oportunidades se forem abordadas de forma estratégica. A chave, de acordo com os especialistas, está na adaptação e na capacidade do país de demonstrar que sua produção agrícola é sustentável e atende aos mais altos padrões.
Enquanto alguns veem essas regulamentações como uma barreira, outros as veem como uma oportunidade para a Argentina se posicionar como líder em produção sustentável. A colaboração entre produtores, indústria e exportadores, juntamente com o uso de tecnologias avançadas para rastreabilidade e certificação, será fundamental para manter a competitividade nos mercados internacionais.
Por fim, o painel enfatizou a importância de se preparar adequadamente para essas mudanças, garantindo que as novas regulamentações se tornem uma vantagem competitiva e não um obstáculo para a agroindústria.