Visões para o futuro da soja responsável
Conferência Internacional RTRS 2024 | Sessão 6
A sessão se concentrou nas visões de longo prazo para a soja responsável, destacando o papel da RTRS no avanço da sustentabilidade. Os painelistas discutiram os principais desafios, como a redução de emissões, a preservação da biodiversidade e a segurança alimentar, ao mesmo tempo em que enfatizaram a liderança da RTRS na certificação e seu papel como plataforma para o diálogo multissetorial, que impulsione um futuro sustentável para a soja.
A Sessão 6 “Visões para o Futuro” explorou visões de longo prazo para a soja responsável, focando no papel da RTRS no avanço da sustentabilidade. Moderada por James Allen, o painel contou com Taciano Custódio, Diretor de Sustentabilidade para a América do Sul do Rabobank; Juliana de Lavor Lopes, Diretora de ESG e Conformidade da Amaggi; e Ariel Zorrilla, Diretor do Brasil na Preferred by Nature.
Uma nova era de financiamento sustentável
Taciano Custódio, Diretor de Sustentabilidade para a América do Sul do Rabobank, abriu a sessão abordando os principais desafios enfrentados pela agricultura: reduzir as emissões, reverter a perda de biodiversidade e alimentar uma população global crescente. Ele compartilhou estudos recentes que destacam que a agricultura representa 75% das emissões alimentares, mas captura apenas 14% de seu valor, enfatizando a necessidade de mais investimentos em tecnologia sustentável. “Esta área ainda está subfinanciada, e as parcerias público-privadas são cruciais para alinhar as políticas globais de baixas emissões de carbono”, afirmou.
Ele também falou sobre a complexidade do cenário agrícola atual, apontando que, embora os países tenham estabelecido metas climáticas mais ambiciosas, enfrentam limitações orçamentárias e volatilidade geopolítica. Taciano destacou que muitos produtores estão adotando práticas sustentáveis, como a rotação de culturas, a agricultura semeada e a agricultura de precisão, mas a adoção de tecnologia digital continua sendo um desafio em algumas regiões.
Em suas palavras finais, destacou a importância dos dados, afirmando: “Os dados são a base para uma melhor comunicação e resultados mais transparentes. Chegou a hora de alcançarmos as metas ambiciosas que nos propusemos”. Também mencionou que a Agricultura Regenerativa (RegenAg) veio para ficar, impulsionada pela eficiência e desempenho, mas alertou que, embora as práticas sustentáveis ajudem a manter o acesso ao mercado, não garantem um prêmio verde devido à falta de demanda em larga escala.
Integrando conservação e produção
Juliana de Lavor Lopes, Diretora de ESG, Comunicação e Conformidade da Amaggi, trouxe a perspectiva de um produtor para a conversa. “A mudança não acontece por acaso, ela é alcançada através da ação”, disse, sublinhando a importância da ação direta para lidar com os desafios ambientais.
A Amaggi se comprometeu a alcançar uma cadeia de suprimentos de grãos livre de desmatamento e conversão (DFC) até 2025, cobrindo todos os biomas e regiões onde opera. A empresa manteve a política de zero desmatamento em suas próprias propriedades desde 2008, expandindo apenas em áreas já abertas.
Lopes compartilhou como a Amaggi monitora 22 milhões de hectares diariamente e integra a saúde do solo, a biodiversidade e a resiliência econômica em suas operações. Enfatizou: “Sem resiliência econômica, os esforços de sustentabilidade não podem ser bem-sucedidos”.
A Amaggi também tem como meta atingir 100% de rastreabilidade e monitoramento dos fornecedores diretos nos biomas da Amazônia e do Cerrado até 2025, reforçando seu compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e alcançar emissões líquidas zero até 2050.
Sobre as abordagens inovadoras da Amaggi, Lopes destacou o projeto de biodiesel B100 da empresa, que abastece toda a maquinaria agrícola e a frota de caminhões, alcançando uma redução de 99% nas emissões de CO2. Também compartilhou o compromisso da empresa com a agricultura regenerativa por meio de seu programa Amaggi Regenera, focado na saúde do solo, biodiversidade e conservação da água. O programa restaurou 296 hectares por meio da técnica de semeadura Muvuca, com planos de expandir 165 hectares em 2024.
Em relação à biodiversidade, Lopes apontou a impressionante diversidade na Fazenda Tanguro da Amaggi, lar de 60 espécies de mamíferos, 254 espécies de aves e 180 espécies de abelhas.
Concluiu refletindo sobre os desafios à frente: “Sou otimista, mas também estou cansada. Alcançar a mudança é difícil, mas é possível. Devemos ver cada desafio como uma oportunidade”.
Impulsionando a sustentabilidade através da influência do mercado
Ariel Zorrilla, Diretor do Brasil na Preferred by Nature, destacou o poder dos mercados para impulsionar a sustentabilidade. “Nossa teoria da mudança se baseia na influência do mercado, das marcas aos agricultores”, explicou, enfatizando o papel da certificação e das práticas sustentáveis na transformação das cadeias de suprimento.
Zorrilla compartilhou o alcance global da Preferred by Nature, que opera em mais de 100 países, com mais de 800.000 agricultores e silvicultores certificados e 33 milhões de hectares de terra certificada. Destacou a importância das cadeias de suprimentos livres de desmatamento, especialmente à luz de novas regulamentações como o Regulamento de Desmatamento da UE.
Zorrilla também alertou sobre os desafios globais urgentes. “O trabalho infantil continua sendo uma crise oculta, com 200 milhões de crianças ainda trabalhando em todo o mundo. A certificação pode abordar alguns desses problemas, mas a colaboração é fundamental”, afirmou, incentivando uma ação coletiva para lidar com questões sistêmicas na agricultura e na silvicultura.
Zorrilla incentivou a RTRS a expandir sua influência e compromisso em diversas geografias e setores. “A RTRS tem a oportunidade de envolver atores de diversas geografias e setores”, disse. “Manter sua reputação como líder em certificação é essencial”.
Concluiu destacando a necessidade de inovação e adaptabilidade para lidar com os desafios contínuos, como a mudança climática, as mudanças regulatórias e os desastres climáticos. “O futuro da sustentabilidade depende de nossa capacidade de evoluir e trabalhar juntos”, comentou Zorrilla.
O papel evolutivo da RTRS
O dia concluiu com uma discussão sobre o futuro da RTRS. Os painelistas concordaram que a RTRS deve continuar seu duplo papel como proprietária de esquemas de certificação e plataforma para o diálogo multissetorial.
Custódio: “A RTRS deve se concentrar em valorizar os atributos sociais e avançar nas práticas de economia circular”.
Zorrilla: “A reputação da RTRS no mercado de certificação é sua força. Expandir seu alcance global será fundamental”.
Lopes: “A RTRS deve continuar sendo uma mesa redonda para o diálogo. A certificação continuará, mas o valor está em reunir diversos interessados”.
Lopes refletiu sobre sua própria jornada em sustentabilidade: “Quando comecei, muitas vezes não concordava 100% com outros interessados. Mas participar do diálogo me deu um valor imenso. Isso é o que representa a RTRS”.
Pontos chave
Ao longo de uma manhã de apresentações e provocações, surgiram vários temas ou mensagens claras dos painelistas e da audiência.
- Além da conformidade: Os requisitos regulatórios, como o EUDR, oferecem oportunidades para criar prêmios de mercado.
- Inovação como catalisador: A tecnologia, da IA até as plataformas digitais, está impulsionando a transição da soja para a sustentabilidade.
- Novas fronteiras de mercado: Aviação, combustíveis marinhos e produtos químicos são mercados emergentes para a soja, prontos para o compromisso da RTRS.
- A colaboração é inegociável: A ação coletiva em toda a cadeia de valor é essencial para alcançar um impacto duradouro.
E, como proprietária do esquema e plataforma de diálogo, a RTRS segue sendo uma pedra angular do movimento da soja responsável. A indústria da soja enfrenta desafios complexos, mas as ideias e inovações compartilhadas em Ghent destacam um caminho a seguir. A soja responsável não é mais apenas uma aspiração, é um compromisso compartilhado com um futuro sustentável.